sexta-feira, 11 de maio de 2007

Sobre "originalidade" ou "o melhor da crítica"

Li esse post no blog do Zanin. Queria escrever um comentário, mas estou sem tempo de escrever até e-mails, então decidi postar um comentário aqui, discussão demanda tempo, então, está fora de questão pelo menos no meu atual momento.
O Zanin fala de Homem Aranha 3. Não vi o filme. Parece que Zanin viu. E também parece que tanto faz ter visto ou não. Ele fala do Homem aranha como produto, da indústria cultural, da demanda do consumidor por um produto formatado; refuta os admiradores do "produto" e suas estratégias pra falar do filme do (super) herói.

Que não se goste do filme ou do gênero é algo perfeitamente normal, que se critique a confecção de sua dramaturgia idem. Mas o comentário do crítico sugere que o essencial do filme-produto é o produto mesmo. Diz haver algum ritmo e alguma inovação em meio à previsibilidade. Mas logo desanca a falar dessas qualidades como estratégia do cinemão para vender um produto igual aos outros.

Sim, Homem Aranha é um produto. De tão óbvio é até constrangedor repetir. Zanin denuncia falta de originalidade e falta de bom senso de quem defende. O cinemão vende clichês e o crítico erige seu discurso em cima de clichês. Mas até agora não entendi o porque que ele achou o filme ruim, ele fala de algo da dramaturgia e da natureza de um personagem super-herói. O que fica claro é seu desprezo - tão e somente - pelo que o filme representa
Seus leitores saudaram o texto como "o melhor da crítica", como algo antológico. Ok, coloquemos as coisas em seus devidos lugares.

Que se fale mal de um produto do cinemão não é coisa nova e nem surpreendente. Talvez originalidade e vigor não sejam mesmo algo tão comum no "cinemão da indústria de Hollywood", mas se espera isso, pelo menos da crítica, aquele que justamente coloca em questões problemas levantados pelo filme. Com todo respeito ao Zanin, seu texto e suas críticas ao filme também não passam de chavão e clichê, os mesmos que ouvimos de qualquer um na rua ou nas filas das salas de cinema bistrot ou nas críticas que denunciam produtos "vazios" da indústria.

O cineasta tem um ofício que naturalmente lida com mercado e indústria. Envolve dinheiro. Portanto, não me assusto com filmes-evento, ou pra usar o termo, produtos. Me assusta sim, um crítico que tem como função refletir além do que se diz corriqueramente por ai, despejar tantos lugares comuns, preconceitos, bobagens que só afirmam idéias que carecem um pouquinho só de complexidade.

Ver originalidade no Homem Aranha pode ser uma atitude de comprar gato por lebre. Agora, achar antológico o texto do Zanin é pra mim comprar rolex na 25 de março. Seu texto é uma postura ideológica muito original na década de 30 e talvez com vitalidade e função em alguma discussão dos homens de cultura do PCB na década de 50.


Enfim..

Falar clichês, da obviedade maniqueísta da trama, reconhecer somente qualidades formais que só servem para "satisfazer o público adolescente", parece só servir para alguns filmes não pra todos. Batismo de Sangue, por exemplo, é tão ou mais maniqueísta que o pior "produto de Hollywood", além de ter personagens planos, chavões e um didatismo que pode não tratar o espectador com consumidor, mas certamente como otário. Dramaturgicamente o filme de Ratton é tão esquizofrênico que resulta num mau drama político e também num mau thriller. Sua beleza é epidérmica "vejam que bela fotografia" ou "como esses atores são bons". Mau montado, mau encenado. Filmes são arte, inclusive os ruins, e como toda arte, existem conceitos, sem eles as obras não existem. O conceito de Batismo de Sangue não sabe direito a que veio, por isso, ali sempre se justifica o "tema" ou a "história". Nunca vi alguém defender aquela proposta de encenação. Formalmente, numa coisa básica de corte e composição tudo é um descalabro.

Como na lei, o rigor deveria servir para todos, não para alguns. Temas sérios e banais são relativos. Batismo de Sangue é um tema sério, assim como Pauline na Praia e Monkey Business são puras banalidades.