quarta-feira, 27 de junho de 2007

American-Brazilian

É interessante como não tivemos um crítico influenciado de modo mais direto pela concisão do texto americano. Poderíamos falar no Inácio, mas ele está, basicamente, sob outro esfera de influências. Inácio vai diretamente ao conceito por meio de um fragmento, uma evidência. A argumentação é sólida e se completa em poucas linhas.
Já, o Filipe Furtado vai direto ao fato, à evidência. Como o bom jornalismo americano (de Hemingway, passando por Mailer a um crítico como Sarris), o texto dele é feito de tempos curtos e de idéias diretas. Pauline Kael ficou famosa mais por isso (pelo estilo e fluidez), do que por ser uma boa crítica. Como crítica ela era absolutamente insificiente com preconceitos latentes de certa intelectualidade jeca de Nova York.

Percebi um crítico diretamente influenciado pelo melhor texto americano (digo estilo e valores críticos). O Filipe Furtado.

Filipe, o mais americano dos críticos brasileiros.

Beleza pura.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

O ofício do cinema - parte I




Revi A Teia do Chocolate ontem no cinema.

Chabrol não se deixa levar por preciosismos e nem quer impressionar. Há muitas ligações que podem ser estabelecidades entre Chabrol, Renoir, Lang, Hitchcock, mas uma é central (porque inicial): cineasta da economia, Chabrol sugere extrema ligação sua com o "ofício" do cinema no que ele tem de mais material e objetivo.

Assim como Hitchcok, a câmera (a máquina mesmo) existe para ocupar espaço na cena, uma cena se faz pelas entradas e saídas no (e do) plano como Lang, a centralidade de um gesto como manifesto, lição de Renoir.

Ele faz arte, claro, mas isso parece importar tanto quanto o aspecto rudimentar do cinema. Os curtos travelings enquadrando um corpo, o modo como o cineasta bifurca a ação dramática em UMA só cena a partir da profundidade de campo, a busca pela continuidade da ação em um deslocamento discreto, a consciência sutil do espaço fora de quadro, o plano como contraplano ("o plano é um contraplano", diria um outro louco). Tudo pouco, tudo pequeno, o mínimo discreto, o detalhe como um berro conceitual sem se contrapor à serenidade e fluidez assimilada da escola americana.

O filme até vale como observação social, aliás, todos os seus filmes valem. Mulheres Diabólicas e Dama de Honra dão uma lavada nos últimos Costa Gravas e Haneke por exemplo. A caracterização da aparência pura como a imagem da burguesia é certamente o mais próximo que se encontra hoje do melhor Buñuel. Ok, tudo isso é evidente. Mas depois de assistir a um filme como esse, se o melhor a dizer (escrever) é que Chabrol faz "uma crítica à burguesia francesa", realmente estamos fodidos e mal pagos.