
Revi A Teia do Chocolate ontem no cinema.
Chabrol não se deixa levar por preciosismos e nem quer impressionar. Há muitas ligações que podem ser estabelecidades entre Chabrol, Renoir, Lang, Hitchcock, mas uma é central (porque inicial): cineasta da economia, Chabrol sugere extrema ligação sua com o "ofício" do cinema no que ele tem de mais material e objetivo.
Assim como Hitchcok, a câmera (a máquina mesmo) existe para ocupar espaço na cena, uma cena se faz pelas entradas e saídas no (e do) plano como Lang, a centralidade de um gesto como manifesto, lição de Renoir.
Ele faz arte, claro, mas isso parece importar tanto quanto o aspecto rudimentar do cinema. Os curtos travelings enquadrando um corpo, o modo como o cineasta bifurca a ação dramática em UMA só cena a partir da profundidade de campo, a busca pela continuidade da ação em um deslocamento discreto, a consciência sutil do espaço fora de quadro, o plano como contraplano ("o plano é um contraplano", diria um outro louco). Tudo pouco, tudo pequeno, o mínimo discreto, o detalhe como um berro conceitual sem se contrapor à serenidade e fluidez assimilada da escola americana.
O filme até vale como observação social, aliás, todos os seus filmes valem. Mulheres Diabólicas e Dama de Honra dão uma lavada nos últimos Costa Gravas e Haneke por exemplo. A caracterização da aparência pura como a imagem da burguesia é certamente o mais próximo que se encontra hoje do melhor Buñuel. Ok, tudo isso é evidente. Mas depois de assistir a um filme como esse, se o melhor a dizer (escrever) é que Chabrol faz "uma crítica à burguesia francesa", realmente estamos fodidos e mal pagos.
5 comentários:
Este filme é maravilhoso. Na época do lançamento, levei minha então namorada para vê-lo, e ela não só nunca me perdoou como me obrigou a assistir a "Casamento Grego" como punição.
Pegue essa imagem que decora o teu post.
Observe a composição.
Perceba a inclinação da câmera, a altura na qual ela está com relação ao ambiente (vemos aquilo que o cinema contemporâneo mais e mais parece querer expulsar do seu interior, não sei se por esquecimento ou por sectarismo: chão, algo que nunca faltou em nenhum Lang, em nenhum Ford, Buñuel, Renoir, Cimino etc...) e aos atores.
A posição do Dutronc na sala, sua colocação em quadro, sua postura.
Só uma outra pessoa filma assim hoje em dia, curiosamente outro francês: Brisseau.
Sintetizando:
Chão = palco.
Boa, Francis!
"Sintetizando:
Chão = palco."
Sim. Também com marcação, entradas e saídas. composição.
Detalhe: longe de certo tele-teatro modorrento que se faz hoje no cinema, veja como Chabrol trabalha as entradas e saídas da cena, ou melhor, quantas saídas ele propõe na cena. Algo aprendido com outro olho teatral (pra ficarmos na tempestade referencial): Welles.
Questão de cena. CENA.
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